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31.7.11

Sobre gatos, amor e riscos


Eu amo gatinhos. Amo sua independência. Amo seu jeito manhoso e sedutor. Amo a mania que têm de olhar soberbos do alto do telhado para os cachorros enfurecidos nos quintais. Amo suas poses engraçadas. Amo o jeito que sentam. De tanto amar, venho tentando criar uma gatinha desde que fui morar sozinha.
Minha primeira gatinha foi a Chérrie. Uma vagabundinha branca com manchas rajadas cinza, de rabo cortado na metade. Fizeram essa maldade com ela na rua, até que foi resgatada por uma conhecida que me presenteou. A Chérrie era doce. Quando eu saía de casa, levava a gata pendurada no meu ombro. Ela ficava ali quietinha, ronronando. Dormia nas minhas costas, uma bolinha bem no meio. Tinha a mania de brincar de esconde-esconde com minhas pernas, que ela acreditava serem desconectadas do meu corpo, provavelmente um animal perigoso que deveria ser atacado, sempre. Se escondia atrás das portas, ou na passagem dos ambientes e ficava esperando essas coisas cumpridas passarem. Eu sempre gritava, ela grudava nas minhas pernas e as arranhava inteiras. Vivia com cicatrizes. Um dia voltei de viagem e a Chérrie não apareceu. Minha empregada contou que a achou na porta de casa: cachorro.
Não lembro quanto tempo depois, a Lica entrou na minha vida. Estava voltando da balada a pé e ela me seguiu. Era tão pequena que cabia na minha mão. Uma siamesa-vagabunda linda com os olhos azuis iguais ao da minha . Quando cheguei na porta ela sentou e ficou esperando eu abrir. Foi a gata que mais me deu trabalho. Era baladeira mesmo. Com 6 meses foi passear na boca da Bandinha, a rottweiler dos vizinhos. Ficou 3 dias internada, quase morremos, eu e ela. Depois de um mês engravidou, antes que eu pudesse sonhar em castrá-la. Mesmo com o barrigão enorme, não parava em casa e, faltando dias para os bebês nascerem, ela bateu a barriga no muro. Hemorragia, perdeu todos os filhotes, saiu castrada. Aí descobriu a caça. Toda noite um camundongo minúsculo virava seu petisco. E eu que morro de medo e nojo de rato, já estava pensando em acreditar em deus e começar a rezar para ela perder o hábito. Foi aí que mudamos de cidade. Ela passou a roubar comida na casa da vizinha da frente. Chegava em casa com um filé de frango na boca, ou uma fatia de presunto. Mudamos novamente e ela achou um ninho de ratos, enormes. Eu acordava e achava os presentes na porta do meu quarto, mortos. O mais absurdo foi o dia que cheguei a noite e ela tinha encurralado 3, TRÊS, destas feras atrás do som. Fui obrigada a vencer meu pavor de ratos. Eu consegui gritar, chorar, tremer e matar o rato ao mesmo tempo. Cena de filme, eu parecia aquelas malucas que começam a esfaquear alguém no meio de uma crise nervosa e ao invés de parar vão aumentando a força e a velocidade. Foi assim que descobri que seria incompetente como assassina. A Lica ainda foi capaz de se encanar. Achei a gata presa no ralo. Ela entrou pelo encanamento do quintal que saía na rua, provavelmente atrás de ratos, e não conseguiu sair. Ficou miando até que eu a achei pelo ralo. Fui obrigada a virar pedreira e quebrar o chão, já que a grelha estava chumbada. Um dia ela pediu pra sair de madrugada, eu nunca deixava, mas ela mordeu tanto o meu pé, que deixei. Demorei um mês para saber: veneno.
Desisti de criar gatinhas. Mas eu estava em Florianópolis e minha irmã me liga: a vizinha que te deu, porque a sua morreu, ela é linda, igualzinha a Lica. E eu escutava ela chorando e miando do outro lado. Quando eu vi aquela coisinha miúda dormindo fiquei apaixonada. A Nany era calma, educada, uma lady. Quase não saía, ficava perto o tempo todo. Foi abandonada antes do tempo e por isso tentava mamar na nossa mão. Eu detestava isso, mas morria de dó. Era muito carinhosa, ficava metade da noite comigo e metade com minha irmã. Nessa época, minha irmã também tinha uma cachorra que adotou a gata como filhote, por isso elas tinham crises de identidade. Se alguém estranho chegava no portão, a cachorra latia e a gata rosnava. Quando a Nany andava no muro, a Lua, uma vira-lata enorme, a seguia, até mesmo no telhado. Engravidou, nasceram 5 filhotinhos lindos, ficamos com aquela que ninguém quis, a Liv. Parecia pequenina e feinha, mas cresceu e ficou maior que a mãe. Tão linda que a roubaram da gente. Então a Nany engravidou novamente, em pouquíssimo tempo, cheguei a dar a injeção, mas ela já estava grávida. Dessa vez ela teve problemas no parto, foi preciso uma cesariana com castração inclusa. Mas ela rejeitou os bebês. A Lua tentou cuidar deles, mas mesmo assim não resistiram. A gata engordou e quase não saía. Um dia chego em casa com febre e ela não veio me receber. A achei deitada no tapete, sangrando: cachorro. Ela não tinha medo deles, achava que eram todos iguais a Lua. Foi uma correria de veterinários, banhos, remédios, mas não adiantou. Quinze dias depois, sem comer e sem beber, ela desapareceu.
Depois dessa coleção de alegrias e tristezas, desisti. Não queria mais saber de gatinhos, de pelos, de gastos. Ficou só o desejo escondido de ter uma gata preta de olhos amarelos. Pesquisei tudo sobre a raça Bombaim. Ficava namorando as fotos na internet. Até que uma exatamente assim me escolheu. A Kim apareceu com sua mãe e 3 irmãozinhos no jardim de uma amiga. Ela também é apaixonada e ficou cuidando de todos, sem coragem de mandá-los embora. A mãe da Kim é enorme, linda, sem um único pelo branco. Mas por ser de rua, é absurdamente brava. Era impossível chegar perto dela. Os gatinhos também eram desconfiados e ficavam bravos com qualquer um. Mas a Kim dormiu no meu colo e eu não consegui mais soltá-la. Passados uns meses, uma colega do trabalho me oferece uma gatinha que ela achou abandonada numa rotatória com a mãe e mais dois irmãos. Resisti a princípio, mas já estava aceitando quando ela me trouxe as fotos e vi o Lee nelas. Quis tanto um gatinho preto, que atraí dois.

Depois de começar a criá-los descobri que existem muitos gatinhos pretos abandonados nas ongs e que não conseguem donos porque no Brasil existe a ridícula superstição de que dão azar. Descobri até que em sexta-feiras 13 eles são maltratados, mutilados e mortos. Fiquei horrorizada e feliz por ter salvado dois deles desse destino. Meus gatos são amorosos, super apegados a mim (o que é uma característica da raça) e super educados. Espero que essa superstição seja ainda vencida pelo respeito. Por sorte eu moro numa rua de apaixonados por gatos e cachorros. Os bebês saem para passear e são cuidados por todos os vizinhos. Todos brincam, protegem, me contam onde estão e o que estão fazendo. Foi assim, que na última sexta-feira, eu fui recebida pelos vizinhos com todo o cuidado do mundo. Acharam um dos meus bebês na calçada: carro. Chorei pelo Lee, porque a descrição parecia com ele. Mas ao cruzar o portão ele pulou no meu colo e eu gritei de alegria. Alegria que acabou quando ele deitou no meu ombro e eu entendi, não foi ele, foi a Kim. Uma tristeza enorme. Ficamos juntos chorando na cama, eu e ele. O Lee dormiu agarrado na minha mão e se eu tentava tirar ele puxava mais forte, até mordia e miava alto, coisa que ele nunca faz. Por dois dias ele sequer pediu pra sair. Por dois dias eu chamei a Kim no quintal, com esperança de que não fosse ela.
Eu amo gatos pela liberdade. Eles não sabem viver presos, entristecem ou enlouquecem. Sabem demonstrar afeto quando necessário, mas não te sufocam por isso. Cuidam e deixam ser cuidados. Adoram carinho e o oferecem. Mas nada de exagero, nada que aprisione. Eu amo gatos porque me enxergo neles. Os riscos são grandes de ser assim. Há cachorros, venenos e carros no mundo. Mas há vizinhos queridos e companheiros apaixonados. Há a noite, os telhados e as árvores. Há um mundo inteiro lá fora e a certeza do cuidado e do aconchego aqui dentro. Não há porque não se arriscar. Vou cuidar do Lee até ele ter uns 200 anos, depois, vou ter outro gato.

20.7.11

Ele chegou!


Dizem que o inferno astral é o período de 30 dias que precede o seu aniversário. Apesar de gostar de astrologia, já ter feito dois mapas astrais e saber quase tudo dos meus signos (virgem e serpente), eu não tenho certeza se esta informação está correta. Tenho uma amiga astróloga, aliás duas, que poderiam me explicar isso, mas nunca fiz a pergunta.
A questão é que o meu inferno astral não acontece assim. Ele vem todo mês de julho. Faço aniversário no lindo dia 31 de agosto. Então, se a informação estiver correta, eu deveria entrar no inferno astral no dia 31 de julho e ele me atormentaria até o dia do meu aniversário. Mas aqui o ciclo é diferente, há anos.
Quando julho começa, mesmo que eu esteja na “melhor fase da minha vida até agora”, uma nuvem aparece em cima da minha cabeça. Exatamente igual aos gibis da Mônica, a nuvenzinha chumbo com raios e trovões vira meu acessório inseparável. Fora de moda, mas inseparável.
O que eu sinto? O que penso? O que acontece? Tudo de ruim. Mau humor e enxaquecas diárias, acompanhadas de crises de choro intercaladas com irritação e tendências autistas. O mundo perde a cor, as pessoas perdem a cor, eu perco a cor. É uma longa TPM ultra plus blaster, cansativa, sofrida e libertadora.
Talvez os astros expliquem, ou Freud. Mas é assim todo ano. E estamos em julho. Estou sem grana até para pensar em dinheiro, agora mesmo acabaram de sair uns centavos da minha conta só porque escrevi isso. Como estou sem grana as coisas acontecem: SWU a venda, com Sonic Youth, no quintal de casa! O sofá dos meus sonhos com 70% de desconto, SETENTA! A luz do banheiro que não liga. A minha faxineira-não-vivo-sem-ela que aumentou o preço. Tudo em julho, inferno de mês.
Pessoalmente estou quebradinha em 158 partes, no mínimo. Minha cama parece o melhor e único lugar do mundo. Se o telefone toca eu sinto vontade de chorar e me pergunto porque as pessoas ligam umas para as outras? A TV parece ser a única companhia possível, afinal ela só fica falando e não se importa que eu não estou prestando atenção. Mas redes sociais se tornaram um inferno, porque elas falam comigo, o tempo todo!
É, para uma pessoa que adora pessoas, contato e conversa, o inferno astral pode ser devastador. O bom é que ele tem data marcada para acabar. Quando agosto e a certeza de que estou em festa chegam, as coisas ficam calmas. Meus olhos voltam a brilhar e só de saber que vou ter meu dia especial, só meu, todo meu, sinto-me alegre denovo. Não faz sentido lógico nenhum, mas é assim.

17.7.11

Pesquisa de sofá-cama para casinha nova

Casa nova dá vontade de ter tudo novo. Não vou conseguir trocar a casa inteira, vai ter que ser bem aos poucos. Algumas coisas são urgentes, como a mesa de jantar que não tenho porque não tinha sala de jantar. E o sofá! Ah o sofá!
Recebo muita gente para dormir aqui: sobrinhas, irmãs, primos, amigos. Então quero um sofá-cama que já me traga duas soluções. Esses são alguns dos modelos que andei achando por aí:


Este é o Tablet, da Tok Stok, achei legal que ele não parece ser um sofá-cama. Adorei as formas retas, que aliás foi critério na pesquisa, e os braços gordinhos. Dá a impressão de ser super confortável, fechado ou aberto.


O que me desanimou foi que é um sofá de dois lugares e quero algo maior. A sala é grande, o de dois lugares que tenho fica perdidinho no meio daquela parede enorme.


Já com 3 lugares, mantendo as linhas retas e com mais charme, o Sumie Mei de Fernando Jaeger quase me conquistou. Ainda mais que na foto está num pink "se apaixone agora". Tecidos, na maioria dos casos, podem ser escolhidos. Eu quero algo em preto ou cinza bem escuro, pois gatinhos largam pelos em tudo. O que me decepcionou foi o preço, não está adequado ao meu momento. Móveis de design assinado têm essa questão, mas o bom é a exclusividade, a qualidade dos materiais e a beleza aliada a funcionalidade. Dificilmente um móvel assinado decepciona nesses quesitos. O Fernando Jaeger é um dos que me cativam, um dia ainda faço um post sobre ele.


O Mackintosh da Futton&Home é uma graça. Aberto parece mesmo uma cama super confortável. Se fosse para o escritório era minha opção certamente. Mas a madeira não combina com o estilo que quero das à sala, mais contemporâneo e sofisticado. No escritório ele nem precisaria sem em preto, um azul escuro ficaria bem legal.



Apaixonei quando vi o Madson, da Tok Stok, tem tudo que eu quero: linhas retas, design contemporâneo, imita os futtons, é de 3 lugares, com várias posições para os encostos que são separados e podem ser deitados separadamente, ideal para ver um filme ou ser usado como cama. E estes pés em aço super discretos!? Lindo! Só não comprei porque dei uma de libriana e também me apaixonei pelo próximo:


O Califórnia Suede da Etna. O padrão preto dele, que infelizmente não achei foto, é exatamente o tom que procuro. As duas almofadinhas também podem ser usadas como braço e o recorte entre o encosto e o assento dá um charme todo especial. Assim que decidir, comprar e chegar eu tiro uma foto do resultado para vocês verem.

15.7.11

Torçam por mim


Depois de várias correções, a crônica "Cena de fim de um amor" foi inscrita no Concurso literário da Academia Jundiaiense de Letras. O resultado sai dia 28 de julho. Vocês ficaram dizendo que gostam do que eu escrevo... acreditei!

14.7.11

Detalhes, fofos detalhes

Quase um ano depois eu, enfim, consigo retomar o blog. Entre muitas consultorias de Feng Shui e muita coisa pessoal acontecendo, o que mais toma forma é o projeto da loja eMe design.
Mês passado fiz o curso de empreendedorismo do SEBRAE e agora estou montando o plano de negócios. O projeto ainda leva um tempo para entrar em execução, há mais cursos que quero fazer e algumas viagens também, mas fico feliz de ver o quanto caminhei desde que me formei em design de interiores pelo SENAC.
Enquanto ralo do lado de cá, para fazer a loja virar, vou trazendo para vocês um pouquinho do meu trabalho, do feng shui e da minha vida. Nesta, a novidade é a casa. Mudei denovo. Eu adoro mudar. Agora meu upgrade foi uma sala de jantar e um escritório. Nada pronto ainda, vou mostrar apenas uns detalhes que já fazem muita diferença.
Lembram-se dos castiçais com velas vermelhas que coloquei na área do sucesso? (veja aqui "Apagão com design") Eles migraram para a varanda na frente da casa e ganharam velas marfim, para combinar:



Nesta casa estou mais verde. A plantinha na jardineira é só umas das várias que minha mãe plantou e me deu de presente. A tarefa agora é não matá-las! Geralmente eu as afogo. Já estão vivas há um mês e receberam adubo. Isso porque minha mama fez até um calendário dos dias de rega e adubo, conforme a espécie.
Um outro detalhe fofo e que também foi presente, são os gatinhos de madeira decorativos. A cliente e proprietária da casa quem me deu, dizendo que são os meus gatos. Coloquei os dois na sala de estar, um acima da porta de entrada e outro acima da porta da área íntima.



E esses são os originais: Lee ao fundo, com 7 meses e a Kim deitada na frente, com 10 meses. Sou completamente apaixonada por gatinhos.



Um detalhe importante, sempre sonhei em ter gatos pretos de olhos amarelos, mas nunca achava um. Comecei a pensar que teria que comprar, mas não existem gatis no Brasil que trabalhem com a raça Bombaim. Eles são mais comuns na Inglaterra e nos EUA. A Kim apareceu com sua mãe e 3 irmãozinhos no jardim de uma amiga. Ela também é apaixonada e ficou cuidando de todos, sem coragem de mandá-los embora. A mãe da Kim é enorme, linda, sem um único pelo branco. Mas por ser de rua, é absurdamente brava. Era impossível chegar perto dela. Os gatinhos também eram desconfiados e ficavam bravos com qualquer um. Mas a Kim dormiu no meu colo e eu não consegui mais soltá-la. Passados uns meses, uma colega do trabalho me oferece uma gatinha que ela achou abandonada numa rotatória com a mãe e mais dois irmãos. Resisti a princípio, mas já estava aceitando quando ela me trouxe as fotos e vi o Lee nelas. Quis tanto um gatinho preto, que atraí dois. Depois de começar a criá-los descobri que existem muitos gatinhos pretos abandonados nas ongs e que não conseguem donos porque no Brasil existe a ridícula superstição de que dão azar. Descobri até que em sexta-feiras 13 eles são maltratados, mutilados e mortos. Fiquei horrorizada e feliz por ter salvado dois deles desse destino. Meus gatos são amorosos, super apegados a mim (o que é uma característica da raça) e super educados. Espero que essa superstição seja ainda vencida pelo respeito. Para o Feng Shui, os animais são ótimos para o Chi e o equilíbrio, contanto que estejam saudáveis. Estimulam especialmente a área do Sucesso, fundamental para alcançar objetivos pessoais e profissionais.

2.7.11

Sobre pratos, pincéis e letras


Eu tenho necessidade de criar. Demorei um pouco pra perceber, confundia com inteligência e talento, porque não sabia exatamente o que eram cada uma dessas coisas. Aos poucos percebi que tenho necessidade de criar. Não criar me deprime, fico me sentido inútil, pequena, acaba com minha auto-estima. Mas quando crio, olho para a criatura e sorrio sozinha.
É assim com o blog. Cada vez que escrevo um post, releio-o umas milhares de vezes. Uma ao fim, para ver se era isso mesmo. Outras duas ou três quando decido publicar. Mais uma vez para cada comentário e, se não há nenhum comentário, mais umas vezes para ter certeza que gosto dele mesmo assim.
Só há um problema com minha criatividade. Ela não se divide. Há várias coisas que gosto de criar e só consigo direcionar para uma delas por vez. Se escrevo, não cozinho, não desenho, não invento nada novo para casa. Se resolvo dar um jeito na decoração da casa, não consigo escrever, nem cozinhar. Desenho porque meu desenho é justamente de objetos, projetos e idéias malucas em interiores. Mas se me aventuro na cozinha, o que adoro fazer, só consigo fazer isso e saio de lá esgotada. Apenas o prazer de comer é possível depois e não há como escrever ou desenhar ou mais nada.
Inveja do Picasso, que fazia vários quadros ao mesmo tempo, espalhados pela casa. Ia na cozinha e comia pintando o que lá estava, voltava para o ateliê e pintava um dos que estavam lá. Dizem que até no banheiro ele tinha um cavalete com uma tela esperando suas pinceladas. Não sou tão gênio, nem tão louca, assim.
Percebi que estas coisas eram minha expressão criativa gradativamente. Primeiro veio o cozinhar. Eu cheguei naquela crise horrorosa de "não sei o que gosto, não sei mais o que realmente gosto". Não, eu não estava na adolescência. Era a boa e velha adolescência dos 30. Isso estava me atormentando há algumas sessões de terapia, quando, no meio de uma conversa eu me ouvi dizendo "eu gosto de cozinhar". Parei a história no meio e sorri. Eu gosto de cozinhar. E tudo virou um deleite. Uma receita por dia, louca e alegremente. Cozinhar era a única coisa que tinha sentido, a única que eu sabia que realmente gostava. Lógico que pensei em fazer gastronomia. Foi pensando nisso que fiz um jantar para amigos em casa e mais do que cozinhar eu arrumei a casa, decorei tudo, da mesa ao banheiro. E recebi tantos elogios pelo prato quanto pela decoração. Foi assim que eu percebi que gostava de decorar e que decorar poderia ser um trabalho, mas que cozinhar era um prazer. Como não gosto de trabalho, não permiti que ele estragasse o meu prazer.
Escrever nunca me abandonou. Durante todo o tempo de reencontro, mesmo sem perceber, nunca deixei de escrever. Podia ser uma poesia tosca e rasgada depois, ou um texto super político, ou ainda no meu diário. Não importa o que, desde quando estava na terceira série e fiz minha primeira poesia sentada no chão, esperando minha mãe costurar alguma coisa pra mim, o que me fazia interromper meu momento criativo para as provas intermináveis, desde aquela tarde em que escrevi minha primeira estrofe, nunca mais parei. Só quando preciso cozinhar, ou desenhar, ou algo assim. E pelos últimos posts vocês podem imaginar que não ando nem trabalhando e nem comendo direito...