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22.7.13

Sobre críticas, a vida e a morte


Estava há pouco gastando meu tempo na frente da TV e ouvi um participante do Project Runway dizer "é difícil porque eles estão criticando a sua alma". Identifiquei-me. Muito. 
É exatamente esta a sensação que dá receber uma crítica ou um elogio para o que escrevo. Quando o faço, é a minha alma que vai para o papel (ou para a tela). Não importa se é uma poesia, um conto, um texto político ou uma crônica pessoal. Coloco o que sinto, o que vejo, o que reflito, o que acredito. Estou ali, nua, exposta, vendo os dedos apontados para mim dizendo coisas boas e ruins.
Quem critica está criticando a obra. O texto está bom, não está. Mas para quem está sendo criticado soa diferente. Algo como "você é bom, você não é". 
A primeira coisa que tive que aprender foi a lidar com a crítica. Críticas e elogios são necessários. Para que eu possa aprimorar a arte que escolhi, é necessário um feedback. Ninguém escreve só para si mesmo, mesmo que este seja o primeiro objetivo. Se assim o fosse, não era necessário publicar. Por isso é muito ruim o silêncio. O silêncio é a pior reprovação que poderia receber. É como dizer "isso que você fez não me causa nada".
E considero que isto não é uma característica só da escrita. A arte é assim. O artista se coloca no que produz e aguarda o impacto que causará. Fica esperando para ver a reação das pessoas. Vão gostar, vão se surpreender? Que emoções sentirão e como as devolverão ao artista? 
Quando fiz o curso de design de interiores, as apresentações de projetos eram emocionalmente estressantes. Além do processo de criação e dos percalços pelos quais passávamos para conseguir fazer o projeto, tínhamos que expô-lo à avaliação dos professores e das outras alunas. Lembro de todas as críticas que recebi, lembro o quanto doeram e o quanto tentei aprender com aquilo para me tornar uma designer. Mas uma das coisas que mais me incomodava era que não havia uma direção. Os defeitos estavam apontados. Ok. Então eu perguntava "mas fora os defeitos, fora isso, como está o projeto?" E nunca recebi uma resposta. Acho que não soube me expressar naquela época, mas o que eu queria era saber mais sobre tudo o que coloquei ali, o conceito foi compreendido? Há público para o que eu estou propondo? Dá para perceber um estilo? Tem forma? Porque colocar a alma no papel é difícil e, muitas vezes, só nós mesmos conseguimos entender o que fizemos.
Estas reflexões vieram junto com outras que estão me assombrando neste julho-inferno-astral. Este ano, somar mais um ano a minha idade está doendo. Fazer 36 anos está doendo. Estou questionando a vida, os sonhos, os planos. Estou lidando com aquele vazio do "não era assim que eu queria estar vivendo". 
Posso ainda somar a estas reflexões (e neuras) um triste acontecimento desta semana. Minha tia Dalva morreu. Além da dor do luto e da saudade, enquanto eu estava lá, olhando para ela e me despedindo, eu só conseguia pensar "não é justo, não deu tempo dela resolver várias coisas, não deu tempo de ver que logo tudo ficará bem novamente". Isso é muito injusto. 
Então minha necessidade de fazer a vida acontecer se intensificou, porque eu já tenho certeza de que não vai dar tempo. Não vai dar tempo de ler todos os livros que quero. Nem de viajar para o mundo inteiro. Nem de ver todos os shows que desejo. Não vai dar tempo de escrever tudo que imagino. Não vai dar tempo de muita coisa. Mas a vida e a morte são assim, injustas. Como algumas críticas. Às vezes.