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19.1.13

Carros não voam


Sonha em ver o futuro. Não o amanhã ou o ano que vem. O futuro mais longe possível, aquele que ninguém imagina que verá.
Olha para os números e rabisca as datas futuras - 21/03/2079, 14/12/2083... Será que ainda se escreveriam deste jeito? Era possível que até lá acontecesse alguma grande revolução que alterasse a forma como registramos o tempo? Os judeus, os chineses e outros povos mais antigos, provavelmente nunca imaginaram que um dia houvesse outro calendário além do deles.
Não a intrigam as grandes revoluções tecnológicas. Sabia que seriam muitas, estava claro. O que despertava sua curiosidade era o cotidiano. A empresa onde trabalha ainda existiria? Seria maior e mais poderosa? E a sua função, ainda existiria dentro da empresa? Haveria em seu lugar um outra telefonista que entre uma ligação e outra teria tempo para pensar nestas coisas? Ela também ficaria rabiscando datas aleatórias enquanto a pessoa esbraveja do outro lado da linha?
Imagina que é por isso que as pessoas acreditam em vida após a morte, com ou sem reencarnação. No fundo ninguém quer morrer, todos querem escrever mais uma data no papel, querem ver mais um dia e saber como é que o mundo vai ser.
E tem que ser assim mesmo, porque quando não é as pessoas desistem. Suicidam-se. Ela nunca pensaria em suicídio. Não porque tivesse a melhor vida do mundo ou não soubesse o que é tristeza. Apenas porque queria ver como ia estar o mundo amanhã, e depois de amanhã, e depois, e depois...
Mas ela não é delirante, acredita. Porque quando imagina os anos futuros, não fica delirando com teletransporte ou sexo por capacete. Acha mais interessante saber que música as pessoas vão ouvir do que através de qual tecnologia o farão. Isso ela aprendeu desde criança, quando delirava com o fim do mundo no ano 2000, ou com carros voadores e cachorros-robôs em 2013.
2013... Ainda usamos telefones e a internet continua uma bosta. Não dá pra negar que as coisas vão mudar, mas de forma muito mais lenta do que os nerds deliram. E o cliente na linha grita mais desesperadamente só pra fazê-la acordar, atestando esse seu último pensamento. 

12.1.13

Tsunami


"Não há futuro. Não há vida. Não há nada. Apenas o fascismo dos homens, preocupados exclusivamente com o próprio prazer. Ah, se eles olhassem além das cabeças de seus paus..."

"Talvez goste tanto da noite por isso: a penumbra esconde os defeitos das criaturas. Todos permanecem iguais, borrados pela pouca luz."

"Existir é esperar. Aguardar o momento do desfecho."

"Compreender é para os fracos. Melhor só sentir."

"Mas nos tempos de violência e desamor, melhor passar o dia de pijama, fazendo palavras cruzadas, do que enfrentar o bando de sanguessugas do lado de fora."

"Mentira tem cheiro. Mentira tem cor. Mentira tem gosto."

(Retiradas de vários contos - Lara Pezzolo Fidelis)


9.1.13

Visões


Ele olhou para ela mais uma vez:
" - Eu quero que saiba
que não deixei de pensar em você
um único dia sequer
desde que fui embora".
E ela, contendo a vontade de xingá-lo:
" - Isso não muda um único dia sequer,
desde que você foi embora".