Pesquisar este blog

28.2.14

O Cemitério de Praga - Umberto Eco


"Isso já me sugeria que, se fosse vender de algum modo a revelação de um complô, eu não devia fornecer ao comprador nada de original, mas só e especialmente aquilo que ele já compreendia ou poderia vir a compreender mais facilmente por outras vias. As pessoas só crêem naquilo que sabem, e essa era a beleza da Forma Universal do Complô" (p. 90)

"Veja bem, prezado advogado - disse o tabelião - talvez seja pelas tendências dos novos tempos, que não são como antes, mas até os filhos de boas famílias devem, às vezes, sujeitar-se a trabalhar. Se Vossa Senhoria se inclinar a essa escolha, na verdade humilhante, eu poderia lhe oferecer um emprego no cartório..." (p. 97)

"Em síntese, Simonini percebia que, para qualificar-se aos olhos dos serviços imperiais, devia dar a Lagrange algo mais. O que torna verdadeiramente fidedigno um informante da polícia? A descoberta de um complô. Portanto, ele deveria organizar um complô para poder denunciá-lo". (p. 198)

"Estamos gastando um bom dinheiro para organizar tumultos nos boulevards. Não é necessário muito, apenas poucas dúzias de ex-presidiários com alguns policiais à paisana; saqueiam-se três restaurantes e dois bordéis cantando a Marselhesa, incendeiam-se duas bancas de jornais e, então, chegam os nossos, uniformizados, e prendem todos, após um simulacro de luta. 
- E para que serve?
- Serve para manter os bons burgueses no auge da preocupação e para convencer a população de que são necessárias atitudes fortes. Se tivéssemos que reprimir tumultos reais, organizados não se sabe por quem, não nos safaríamos tão facilmente" (p. 236)

3.2.14

super_rock 18: Cancún, México

Eis que quando menos eu esperava, sem nenhum planejamento, vou parar no México. Sempre achei que começaria a cruzar as fronteiras pela América Latina. Jurava que seria para o Uruguai, país que venho namorando há mais de um ano. Então minha família decide ir pra Cancún e eu ganho a viagem. Dá pra dizer não?

Cancún é uma tripa de terra se estendo entre o mar do Caribe e a lagoa Nichupté. O sol surge de trás do mar e se põe atrás da lagoa. Dois espetáculos garantidos diariamente. É bem verdade que eu perdi este espetáculo por uns 3 dias premiados com muita chuva e frio, consequência da frente que caiu sobre o Canadá e os EUA. Os locais comentavam que nunca faz frio daquele jeito lá, que nem tinham roupa pra isso. Não só eles né? Turistada toda enrolada nas toalhas do hotel, tremendo de shorts e camiseta. 
Mas lógico que isso não me impediu de curtir e fui pra Tulum, cidade Maia há duas horas de Cancún. Debaixo de muita chuva, corremos o parque todo. É impressionante, está tudo muito preservado. Nessa cidade, que funcionava como um porto para o comércio com El Salvador, não havia pirâmides. Dentro da muralha que cercava as construções moravam o rei e a rainha em casas separadas, os intelectuais e a "nobreza" que não tinha este nome pra eles. Ao redor, fora da muralha, ficavam os camponeses e trabalhadores. O guia, descendente maia, deu milhares de explicações interessantes, mas a chuva castigava tanto que a memória só guardou o básico.

Depois de Tulum o sol apareceu e seguiram-se mais sete dias tropicais como esperávamos. Piscina, praia e muitos drinks. Delícia. A zona hoteleira de Cancún dominou a praia. Até hoje só existe uma família maia que não vendeu sua casa para os hotéis e está lá, no meio de dois hotéis enormes, vivendo como sempre viveu nos seus 300m2 de paraíso. 

Talvez por isso, a praia seja vazia. Apesar de ser alta temporada, de todos os hotéis lotados, a praia fica super tranquila. Principalmente o mar que quase ninguém entra. O que eu agradeço porque amo o mar e detesto ter que achar um pedacinho que dê pra curtir no meio da multidão. Águas turquesa que parecem um gel quando se olha da areia e ficam totalmente transparentes quando se entra, temperatura excelente sem choque térmico. Areia fina no começo, ao andar pro mar passa por uma parte de conchas quebradas que dói horrores o pé e na beira fica grossa. Nada de mar piscina, tem ondas e correntezas fortes, tem que saber lidar. 

O Gran Park Royal Caribe, onde nos hospedamos, é maravilhoso. Piscinas e bares muito bons. Tem 4 restaurantes e todos valem a pena. O Cocay é o restaurante principal que serve o super café da manhã, almoço e jantar que variam o cardápio. Para comer comida mexicana, tex mex e caribenha é o ideal. O La Concha serve frutos do mar, muito muito bom. O El Mirador é um restaurante italiano feito para descansar de frutos do mar e comida mexicana. E o melhor de todos para mim, o El Oriental, que serve pratos japoneses, chineses, indianos e tailandeses, além de ser lindo. Olhando de fora parece uma estufa. Internamente é que se vê que as enormes paredes de vidro dos 3 andares são cobertas por trepadeiras, deixando o local escuro e criando o clima exótico. 

Visitei também a famosa cidade de Chichen Itza (em maia lê-se chichen its rá). Ficar embaixo da pirâmide que "virou" maravilha do mundo foi meu momento mais especial na viagem. Foi a hora que eu pensei "nossa, olha onde eu estou". É linda, é impressionante, é fascinante. Dá vontade de subir, entrar, explorar tudo, mas todos os monumentos estão fechados para visitação. Uma história de depredações, pichações e acidentes levou a isso. Fiquei muito impressionada com o templo das mil colunas. No santuário deste templo, entre as colunas quadradas, eram feitos os sacrifícios. Já na enorme área de colunas redondas e perfeitamente alinhadas ficava o depósito de armas. É uma parte mais silenciosa do parque, as árvores fechadas, a posição do templo e das colunas dão uma cor mais acinzentada para o local. A sensação é de estar numa floresta de colunas. Uma dica valiosa para conhecer este lugar é tentar se livrar das agências, pagar um transporte direto e ficar no parque o dia todo. Isso porque as agências fazem passeios de 2h e o guia fala o tempo todo, se você não fugir do guia não vê o parque inteiro. Eu fugi, claro. Ah também é o melhor lugar para comprar artesanato maia. Além de ser realmente feitos por maias, o preço é muito menor. Nunca pague o primeiro preço, o normal para eles é negociar. Foi o lugar onde vi as mantas e as peças mais bonitas. Só que se você vai com agência e fica só duas horinhas, nem dá tempo.

No caminho para Chichen paramos em um cenote. Os cenotes são lagos que se formaram dentro das cavernas, uma característica da região da península de Yukatan que tem cerca de 250 mil cenotes. Os maias usavam esta água para beber. Por ser rica em cálcio, os deixou com a estatura baixa. Entrar dentro da caverna já é mágico, com um lago destes fica divino. 

O último passeio que fizemos foi para o Xcaret. Um parque natural que mistura tudo: zona arqueológica, atividades aquáticas, shows de danças típicas, encenações maias e mexicas, um teatro maravilhoso, animais como em um zoológico, trilhas por cavernas, passeio de barco, praia, degustação de vinhos... 

É enorme, caro, não dá pra ver tudo em um dia e vale a pena. Nadei num rio subterrâneo por 40 minutos, morrendo de medo das cavernas que tinham morcegos. Vi flamingos, muitos flamingos. Eles são lindos e engraçados, as penas são de um salmão muito vivo, brilhante. Vi também os gatinhos: pantera, onça e puma. Golfinhos, tubarões, tartarugas marinhas, peixinhos e bichinhos do mar. Visitei mais ruínas e uma representação do cemitério caracol maia. Terminamos o dia com um show muito bom contando a história da colonização mexicana. 

Ainda teve dia de compras e aproveitei pra sair experimentando tequilas. Gostei muito da Mañana. As tequilas são caras, mais barato que no Brasil sim, mas tudo fica muito caro pra gente lá. Eles tiram muito sarro da José Cuervo que para eles é boa só para combustível de carro. Ensinaram que a tequila tem que ser 100% agave, a Cuervo nem indica a porcentagem.
Em Cancún não é um bom lugar para ver a arquitetura típica mexicana. No caminho para Chichen passa-se por uma cidadezinha antiga, da época da colonização, onde se vê mais a arquitetura deste período. Curioso que se vê a praça cheia de pessoas com celular, tablet e notebook, porque a prefeitura disponibilizou o wi-fi ali.  Já Cancún é uma cidade nova construída para o turismo. Era um paraíso esquecido até que os hotéis chegaram e hoje é só isso que vemos na tripinha que corre para o mar: grandes hotéis, shoppings, restaurantes e o centro da cidade. 
Ah! E os mexicanos são muito simpáticos e comunicativos.