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13.5.12

Minha mãe


Eu sempre brinquei de chamar minha mãe por vários nomes: Mary Helen, Mamy, Mama, Maria Helena Mendes Leal Huertas (ela não tem o nome do meu pai), Mother, Momys, Mãe. E essa é só uma das brincadeiras que gosto de fazer com ela. 
Eu já escrevi aqui sobre meu pai, minhas sobrinhas e sempre digo "tenho que escrever sobre minha mãe", mas a verdade é que tenho tanto a falar desta mulher incrível, que fico perdida. Tanto que acabo de fazer duas introduções para este texto. 
Vou seguir a cronologia, para me ajudar. Lembro de muitos e muitos momentos com minha mãe. Lembro de quando ela costurava pra mim. Eu estava na terceira série, tinha uns 8 anos, ficava brincando e arrumando coisas para fazer enquanto esperava ela me chamar para a próxima prova. Num desses dias decidi que queria escrever uma poesia. Aí escrevia e mostrava para ela. Que dava opinião. E minha mãe não elogiava se estava ruím só para me agradar, ela criticava e dava sugestões. Foi numa dessas tardes que eu inventei que queria escrever um livro e comecei. Lembro de quando mostrei e a primeira frase dela foi "está bom, mas porque você está usando tanto lhe?  substitui". E nossa, como foi difícil mudar o texto e substituir tantos lhes! 
Lembro da boquinha de brava que ela faz até hoje. Era só apertar os cantos dos lábios daquele jeito que eu já tremia porque sabia que vinha bronca. Parava na hora tudo o que estava fazendo e dizendo. Muitas vezes eu nem sabia o que era que estava errado, mas por segurança, virava uma estátua.
Minha mãe me ensinou a subir em árvores e a comer frutinhas silvestres que ela pegava no meio do mato quando era criança. Minha mãe me ensinou milhares de brincadeiras: pular corda, elástico, barbante e até a descer o barranco de papelão.
Mas as maiores lições, vieram de situações em que ela me mostrou que a vida é enorme e que valores fazem você ser quem é. Lembro quando, depois de uma semana comendo arroz, feijão e ovo, reclamei. Ela respondeu "agradeça que no seu prato tem ovo". Olhei e no dela não tinha. Não havia jeito mais prático de aprender a olhar o outro, a entender o que era ser egoísta e a entender o que ela era capaz de fazer por mim. Foi no fundo, um ensinamento e mais uma prova de amor.
Mais tarde eu descobri toda a sua história de amor, que se tornou uma história de luta contra os preconceitos, a sociedade e a família. Com 20 aninhos minha mãe saiu de casa para assumir um relacionamento com um cara 20 anos mais velho, desquitado, em plena década de 70, grávidos. Isso lhe custou problemas na família que não aceitavam a relação, mágoas, sua carreira. Mas lhe rendeu amor e 3 filhas. Era o que ela queria, ela foi atrás e conseguiu. Acho mais lindo ainda, que minha vó, não foi contra o amor de sua filha. Minha vó, uma velhinha do começo do século 20, apoiou e nunca diferenciou minha família por esta história. Um dia, preciso escrever sobre essa mulher também, porque ela é outra inspiração pra mim.
Lembro de quando um dos meus namoros acabou e eu a vi abraçada a uma amiga, chorando e dizendo "até quando isso vai acontecer?". Estava doendo em mim, estava doendo nela.
Quando meu pai morreu, minha mãe a assumiu a casa, as filhas, a vida. Ela odiava dirigir e foi tirar carta e enfrentar o trânsito de SP. Em momento nenhum, deixou que a falta do meu pai, fosse além da saudade. Ela fez tudo para que nossa vida só melhorasse. E conseguiu.
Então eu passei na faculdade para morar longe 450km. Disse: e agora mãe, como eu vou fazer, a gente não tem grana... E ela me respondeu: É isso que você quer? Então vai, o resto a gente pensa depois. Fui, aos 19 anos eu saí de casa com o apoio da minha mãe. Fiz muita merda, aprendi muito, mas sempre voltava pra ela, pra pedir conselhos e pra deitar no colo. Nessa mesma época ela me ensinava a cozinhar pelo telefone. E eu ficava doente lá e ligava pra ela, que nada podia fazer, mas me acalmava.
Quando, depois de anos de viuvez, ela decidiu sair e começar a namorar de novo, foi a minha vez de apoiá-la. Nunca tive ciúmes ou qualquer infantilidade desse tipo. Além de minha mãe, ela é uma mulher linda e guerreira que merece muito ser feliz. Então eu escutava as histórias dos caras sorrindo, porque minha mãe estava buscando ser feliz de novo.
Essa mulher é meu maior exemplo. Ela não parou no tempo. Ela se supera dia a dia, acompanha o mundo. Quando criança me disse que não gostaria de ter um genro negro, na minha adolescência, sabendo que eu me sinto atraída pela beleza negra, fez questão de me mostrar uma família de amigos dela dizendo "Mica eles são lindos, você ia adorar". Quando criança ela era católica, hoje ela já passou por várias religiões e se diz espiritualista. Quando criança ela me preparou para casar e ter filhos, hoje ela me diz que acha normal eu não querer ter filhos porque isso não é necessário para uma mulher ser feliz.
Ela cuida da minha avó e de nós. Vai aos bailes a semana inteira e dança tanto que chega em casa com dores nos pés. Às quintas, depois do baile, vem tomar um café da tarde na minha casa e ficamos horas conversando e contando a vida. Os anos passam e ela está cada vez mais jovem e bonita.
Não vou conseguir parar de falar dela, esse texto não tem um fim, tanto quanto eu quero que ela seja eterna.

1.5.12

Sobre doença e cuidado


Sumi. Quem me acompanha no twitter e no facebook sabe porque: dengue. Fiquei deitada por 6 dias sentindo dores muito fortes, enjôo, fraqueza, remédios e médicos. Agora estou bem, só lidando com a chatice da coceira que as manchas vermelhas causam. Mas foi desesperador. 
Acho que o pior de tudo nessa doença foi enfrentá-la sozinha. Hoje, quando pude ficar com minha irmã e sua família por poucos minutos, eu me senti muitíssimo melhor. Infelizmente fiquei doente numa época em que minha família não podia estar comigo. Foram 6 dias deitada sozinha em casa, sem forças pra fazer nem a minha própria comida, passando mal até no banho e pensando que eu só queria alguém aqui. Alguém pra me dar conforto e fazer a coisa ser menos chata. 
Por sorte, isso foi uma situação muito específica. Em geral, minha mãe vem me ver e fazer o bom e velho chá que cura tudo. Imagino como deva ser horrível para quem nunca tem essa sorte. 
Alguns podem achar drama, mimimi, manha. Não acho. Estar doente é difícil e triste. Já enfrento a vida diariamente, como todo mundo. Tenho que ser forte para tudo e estou sempre sozinha. Mas quando estou doente e meu corpo não responde à força que necessito, eu realmente preciso de ajuda. 
Acho incrível quem não precise. Incrível e mentiroso. A pessoa dá um jeito, enfrenta, eu enfrentei esses dias. Mas dizer que não precisa e que desejar ser cuidado quando se está doente é manha, é mentira. 
Quando o corpo adoece, o equilíbrio se desfaz. Cada pessoa reage de um jeito, no entanto é esperável que as emoções fiquem afloradas e a mente não faça a sua parte tão perfeitamente. 
Cuidado, carinho, aquece o coração. Acalma. Faz ter a segurança que nada pior vai acontecer, porque qualquer coisa tem alguém ali para te ajudar. 
Mulheres têm a mania de dizer que "homem é mole, qualquer resfriado faz um show" e coisas do tipo. Acho apenas que eles aceitam ser cuidados. Eu também aceito. Se estou doente quero cuidado. E estou disponível a cuidar, quando for o contrário.