Pesquisar este blog

19.1.12

Sobre lutas, negação e desistência


Ainda pensando sobre a tempestade de manifestações que caem aos nossos olhos desde o advento das redes sociais, vi meus contatos divididos entre dois tipos: aqueles que defendem a causa dos animais x aqueles que criticam quem defende esta causa. O que é no mínimo curioso. 
Quem defende a causa vocês sabem o que faz: posta fotos, segue as ongs e associações de protetores, divulga links com informações sobre o caso do momento, pede assinaturas e procura, deste jeitinho, se engajar e espalhar a ideia entre os seus contatos. 
Quem critica, basicamente, usa duas frases “o país pára por um animal, mas não para combater a pedofilia” ou “ou país pára por um animal, mas não para combater a corrupção”. Há outras versões mais elaboradas ou mais toscas. Mas todas contém a inconformidade com o número de pessoas que é capaz de se mobilizar por um cachorro e não é capaz de se mobilizar por causas consideradas maiores. 
O que me intrigou foram os porquês. Porque uma pessoa é capaz de se mobilizar contra os maus tratos aos animais, mas não contra tantos outros problemas sociais e, principalmente, pelas questões políticas do nosso país que podem inclusive trazer avanços a sua causa primeira? Porque as pessoas que enxergam isso, criticam os protetores e seus adeptos tão ferozmente como se eles estivessem tornando a sociedade pior por defenderem uma causa diferente da deles? E porque, esses grupos são necessariamente antagônicos e competitivos como se só um deles pudesse ser detentor da verdade?
A primeira coisa que enxergo nisso tudo é que usar as redes sociais para denunciar casos de maus tratos e defender os direitos dos bichinhos, deu certo. Reclamem o quanto quiserem reclamar, falem o que quiserem, mas deu certo. É só surgir um novo caso que ele rapidamente torna-se viral e sim, o Brasil conectado já está sabendo, gritando e pedindo providências. Inteligentemente, o pessoal mais organizado desta luta sacou que o melhor é usar isso e já passaram pra segunda etapa – cobrar uma mudança na legislação através do apoio popular. Eles têm o público cativo, é só usá-lo. Se tenho críticas a isso? Não, só elogios. Não sei se a estratégia foi conscientemente traçada, mas é básica e deu certo. Parabéns. Não demorará muito para que vejamos novas conquistas nesta área. 
Então poderíamos usar a mesma força para outras lutas? Sim, mas depende da luta. O movimento GLBTT já usa e também consegue vitórias. Outro caso que deu certo. Mas contra a pedofilia não daria. Não neste esquema. Há tempos atrás, descobriram um cara que estava postando vídeos dele abusando de um menino que não parecia ter mais de 7 anos. Começaram a divulgar o vídeo no twitter. Resultado? Milhões de pessoas tiveram acesso a um vídeo de abuso, incluindo os pedófilos de plantão. Foi preciso que os órgãos competentes e as organizações se pronunciarem pedindo que as pessoas parassem de divulgar o vídeo porque isso era estratégia de pedófilos para compartilhar material sem que pudessem ser rastreados.  A ação não identificou o agressor, expôs a vítima, aniquilou a investigação e ainda contribuiu com a rede de pedofilia... 
Vocês podem pensar: mas as pessoas não pensaram nisso? Agora, assim exposto, é lógico. Mas na hora que a coisa começou, a maioria não pensou. Pensou ao contrário que estavam expondo o agressor, que alguém ia identifica-lo e então ele seria preso. Pensamento ingênuo? Sim. Mas na internet qualquer um tem acesso, então não dá pra esperar que as pessoas tenham informação e capacidade suficiente de enxergar tudo que envolve a questão. Talvez seja por isso mesmo que as inúmeras ongs e associações de defesa dos direitos da criança, incluindo as que lutam especificamente contra a pedofilia, não incitam este tipo de campanha... Não é que não tem ninguém fazendo nada, é só que não sabemos tudo o que está sendo feito. A divulgação principal é – denunciem. É através das denúncias à estas entidades ou ao disque denúncia que eles podem atuar. É assim que podemos ajudar. 
No entanto, há um outro ponto importante nesta questão. Olhar um animal vítima de violência dói o coração e incita à reação – eu posso fazer algo por ele. Mas olhar para uma criança vítima de violência e abuso, mesmo provocando dor, raiva e desespero, incita à dúvida – o que eu posso fazer? Geralmente não se tem resposta... Podemos denunciar. Depois disso é com a justiça e com a rede de serviços que ela vai precisar para se reerguer. Um cachorrinho, a gente leva pra casa. Uma criança, alguém pode simplesmente levar pra casa? 
Aprofundando mais ainda esta análise, eu diria que ninguém quer realmente olhar para uma criança nesta situação. É tão cruel, tão desumano, que simplesmente não aguentamos. Sabemos que existe, sabemos que tem alguém trabalhando com isso e então pronto. Porque encarar essa dor é demais para a maioria das pessoas. Infelizmente eu já a encarei e sei o quanto é difícil essa luta, por isso entendo se uma pessoa me diz “eu não consigo lutar contra isso, por mais que eu queira”. 
Agora olhemos para a questão política, a corrupção e os absurdos diários que assistimos acontecer no nosso país. Dizer que não dá certo mobilizar pela internet seria uma burrice. O Egito e a Líbia estão aí para provar o contrário. Então eu vejo que a questão é mais particular, mais pertinente ao nosso pobre país. 
Mobilização política exige capacidade de entendimento do cenário político, econômico e social de um país. Esta capacidade exige conhecimento e discussão. Pronto já eliminamos mais da metade da nossa população. Entre os que restam, é possível identificar dois fatores que podem levar a este aparente descaso.
Primeiro a mania de olhar política como se fosse campeonato de futebol. Representantes e eleitores dos diversos partidos esbravejam diariamente suas posições e atacam as outras. Depois reajem aos resultados como torcedores de times adversários. Exemplo claro disso foram as últimas eleições presidenciais em que, ao final, com a vitória da atual presidenta, os partidos contrários e seus eleitores saíram proferindo ofensas a pessoa (lésbica, feia, gorda, etc) e não formularam uma única crítica ou análise política do contexto. Era comum, nesta época, ver as pessoas se degladiando, se xingando, mas dificilmente se encontrava um debate sério sobre a situação posta. 
Segundo, vem o cansaço. Sim, estamos cansados. Há décadas somos maltratados e enganados por nossos políticos. Chegamos num ponto em que não sabemos o que fazer. Desistimos. Simplesmente desistimos. Se eu brigar por um gatinho agredido, eu o vejo ali se recuperando e vivendo bem, trazendo alegria para alguém. Se eu brigar por mudanças políticas, eu passo anos em debates e ações sem fim e não vejo mudanças significativas. Os políticos ensinaram, nós aprendemos – farinha pouca, meu pirão primeiro. E assim vamos levando, xingando quando dá, salvando um gatinho quando dá, fechando os olhos para o que não suportamos olhar e dormindo tranquilos. 

Para denunciar:
Disque 100 - Disque Denúncia Nacional de Abuso e Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes. Discagem gratuita em todo o território nacional. 

Para se engajar: 
Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais – ABONG – possui um cadastro das ongs por área de interesse, é só buscar aquela que é a sua cara. 

2 comentários:

  1. Mica vc sabe que eu defendo os animais e tenho vários comigo.Não posto tudo que eu vejo e andei bloqueando vários grupos de animais pq estava me fazendo mau e percebi que muitos só postam e nada fazem.
    Ajudo duas Ongs e outras coisas mais.
    Já discuti fervorosamente sobre assunto Animais X crianças e como muitos outros assuntos da minha vida concluo:Ok, cada um cuidando de alguma coisa nesse mundo, está mais que perfeito.O que não pode é discutir horas e horas e nada fazer!Então boora ajudar as crianças, animais, idosos, meio ambiente!!!Bjsss

    ResponderExcluir
  2. É isso mesmo Sun! Já aprendemos a falar, agora é hora de aprender a andar! Beijos

    ResponderExcluir