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4.2.12

Cisne Negro: sobre a loucura e a perfeição

Esses dias publiquei aqui o poema "Insanidade", escrito descaradamente inspirado no filme "Cisne Negro" (Darren Aronofsky, 2011). Tinha acabado de assisti-lo e era preciso escrever, mas o filme mexeu tanto comigo nesse momento eu-eu mesma-e irene, que só o poema não esgotou todas as reflexões e todos os sentimentos aflorados. 
Há dois pontos centrais e antagônicos que a história discute, a loucura e a perfeição. É incrível como o que é antagônico pode ser apenas a outra face da mesma coisa, talvez até o seu complemento, como na teoria yin-yang. 
(Se você não assistiu o filme, sugiro que pare aqui esta leitura. Não acho que conseguirei dizer tudo o que desejo sem lhe entregar detalhes importantes da narrativa. Assista-o e volte. Adorarei conversar depois. Agora, para quem já assistiu, ou vai ler mesmo assim porque não é como eu e não perde o tesão se ficar sabendo de pedaços da história, continuemos.) 
A loucura aparece já no começo, disfarçada. Não é loucura, é só uma pessoa tão envolvida com sua arte e seu trabalho, tão determinada em conquistar seu objetivo, que respira isso a cada minuto do seu dia. Não há outra opção de vida, de diversão ou de rotina. Tudo envolve a ideia de ser a melhor. É quase uma qualidade. Apesar de a mãe fazer a figura opressora, é também a representação do que a sociedade diz: "pessoas assim são especiais e merecedoras". E nós acreditamos. 
É no auge do esforço, no limiar da chance de chegar aonde planejou, que ela descobre: falta alguma coisa, falta sentimento. Então assistimos a busca inconsolável da personagem por tudo aquilo que ela reprimiu a vida inteira em troca da disciplina e da técnica perfeita. 

Ela era perfeita demais, técnica demais, precisa demais. Faltava-lhe pulso, aquela energia que o olhar transmite e nos faz acreditar na personagem. Ela não sabia viver uma personagem, só sabia dançar perfeitamente. 
Como superar essa falha? Vivendo literalmente a personagem, já que sua vida não lhe oferecia emoções e sentimentos necessários. Assim, ela se confunde com a personagem que representará e leva ao extremo cada sensação, cada sentimento, enlouquece. 
Ao fim do espetáculo, ela resume "Eu senti, perfeito". 
A primeira reação norma é pensar "Doida!". Mas a sutileza da obra logo nos inquieta: "Será?". Será mesmo que dá para separar a loucura da perfeição na busca de um objetivo? Lógico que dá, há milhares de pessoas que conquistam seus objetivos sem enlouquecerem. Mas, no filme, se ela mantivesse o equilíbrio, ela conseguiria? Provavelmente não. Então, será que vale a pena enlouquecer por um objetivo? E a esta pergunta, tanto no filme como na vida, eu respondo: vale. 

Não é só por isso que vivemos? Não é pela incansável busca daquilo que mais desejamos? Não é só pela luta para poder dizer "eu consegui, eu cheguei lá!"? O lá cada um sabe o seu - carreira, viagem, amor, conta bancária, etc. Mas não é só por isso? Se é só por isso, chegar a loucura, mas sentir a perfeição da conquista, vale a pena. 
A ideia da loucura assusta, mas em suma ela é fazer o que não é aceitável socialmente, o que não é normal. Isso vai desde cultivar a preguiça, passando por transar muito com muita gente, ao assassinato. 
Eu cultivei o equilíbrio, a sobriedade e a razão desde pequena. Ser capaz de lidar racionalmente com os sentimentos e a vida era um dos meus objetivos. Eu consegui. E isso não me serve pra nada. Não há interlocutor ou relação possível, porque as pessoas não são assim, as pessoas apenas sentem. Então, acho que é hora de enlouquecer. 

4 comentários:

  1. Exatamente isso que vc disse.É um filme para vc assistir 1000 vezes e repensar mais outras tantas vezes.
    O pior cobrador é aquele que existe dentro de vc, pq esse não se convence nunca.
    Muito bom o texto e não enlouqueça, viva, resgate a criança adormecida, isso funcionou muito pra mim!Bjsss

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  2. Que bom que gostou Sun! Obrigada, bjos.

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  3. Anônimo5:24 PM

    "é hora de enlouquecer"... como?
    você "cultivou o equilíbrio, a sobriedade e a razão desde pequena". Como se muda isso? é só decidir, assim, como apertar um botão?

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  4. Ah não, nunca é simples. Nenhuma mudança é simples, nenhuma escolha é fácil. Quando se muda o caminho, sempre se perde algo que ficou do outro lado da estrada. Só que as vezes, tenho necessidade de mudar, de seguir no sentido contrário, de experimentar outra forma, outra cor, outros desejos. Como? Com o que eu tenho - a razão, a sobriedade e o equilíbrio. A loucura é algo a descobrir. ;) Apareça sempre e deixe seu nome, eu gosto de saber quem me lê! rs

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