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11.1.12

Entre a leveza e a crítica



Fazer faculdade de humanas pode ser prejudicial ao seu humor. Explico: nós ficamos chatos. Logo que me formei e mudei de cidade eu era a pessoa mais chata do mundo. Não acho isso até hoje, no fundo eu tenho orgulho da visão crítica e da capacidade de argumentação que desenvolvi morrendo de estudar filosofia, sociologia e política. Mas quem aguenta conversar com alguém assim? Só quem também desenvolveu essa capacidade. 
Então eu estava perdida no vilarejo entre pessoas que gostam de beber cerveja e rir, mas não entendiam minhas piadas. Entre mulheres-professoras que falavam 24h por dia sobre seus filhos e atrelavam todos os problemas da educação à falência da família nuclear conjugal. Entre pessoas que não conhecem até hoje as bandas que eu ouvia. Entre gente simples e comum, com um coração bom na maioria das vezes, mas que não via sentido nenhum em discutir filosofia e política. 
Nem preciso dizer que ser feminista só piorava minha imagem né!? Além de chata, tornava-me estranha e radical. E eu ria pensando "imaginem se conhecessem uma feminista radical!". 
No entanto, fui me encaixando, me adaptando. Consegui conhecer pessoas meio termo, que gostam de uma ou outra discussão e que, diferente de mim até então, também conseguem ser leves e rir de coisas simples e bobas. Aprendi com elas o prazer de viver assim, mais leve. Sem tanta exigência e criticidade para cima de tudo e de todos. 
Mas eu preciso confessar uma coisa: tenho recaídas. Periodicamente um dos lados fica mais forte: o crítico ou o leve. Geralmente um entra em ação para anular o outro. Tem épocas que levo tudo super na boa e depois de um tempo começo a me sentir burra. A criticidade começa a gritar e volto a ficar alerta. Isso dura até me sentir chata novamente. 
Estou na fase de me sentir chata. Nos últimos tempos deixei a crítica me dominar e me diverti muito com isso. Mas há uns dias sinto a prisão que ela me traz. A crítica coloca regras do que posso fazer, ver, gostar e aí, quando me pego fazendo algo fútil, o alarme soa. Isso cansa demais. Quero voltar a olhar as coisas de forma mais leve e simplesmente rir de tudo. Rápido.

Um comentário:

  1. Ah, não acho chato quem gosta de discutir sobre filosofia, sociologia, política, entre outros.
    Pelo contrário, acho que uma pessoa que 'sabe' falar sobre isso se torna muito interessante. ;)

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