Fazer faculdade de humanas pode ser prejudicial ao seu humor. Explico: nós ficamos chatos. Logo que me formei e mudei de cidade eu era a pessoa mais chata do mundo. Não acho isso até hoje, no fundo eu tenho orgulho da visão crítica e da capacidade de argumentação que desenvolvi morrendo de estudar filosofia, sociologia e política. Mas quem aguenta conversar com alguém assim? Só quem também desenvolveu essa capacidade.
Então eu estava perdida no vilarejo entre pessoas que gostam de beber cerveja e rir, mas não entendiam minhas piadas. Entre mulheres-professoras que falavam 24h por dia sobre seus filhos e atrelavam todos os problemas da educação à falência da família nuclear conjugal. Entre pessoas que não conhecem até hoje as bandas que eu ouvia. Entre gente simples e comum, com um coração bom na maioria das vezes, mas que não via sentido nenhum em discutir filosofia e política.
Nem preciso dizer que ser feminista só piorava minha imagem né!? Além de chata, tornava-me estranha e radical. E eu ria pensando "imaginem se conhecessem uma feminista radical!".
No entanto, fui me encaixando, me adaptando. Consegui conhecer pessoas meio termo, que gostam de uma ou outra discussão e que, diferente de mim até então, também conseguem ser leves e rir de coisas simples e bobas. Aprendi com elas o prazer de viver assim, mais leve. Sem tanta exigência e criticidade para cima de tudo e de todos.
Mas eu preciso confessar uma coisa: tenho recaídas. Periodicamente um dos lados fica mais forte: o crítico ou o leve. Geralmente um entra em ação para anular o outro. Tem épocas que levo tudo super na boa e depois de um tempo começo a me sentir burra. A criticidade começa a gritar e volto a ficar alerta. Isso dura até me sentir chata novamente.
Estou na fase de me sentir chata. Nos últimos tempos deixei a crítica me dominar e me diverti muito com isso. Mas há uns dias sinto a prisão que ela me traz. A crítica coloca regras do que posso fazer, ver, gostar e aí, quando me pego fazendo algo fútil, o alarme soa. Isso cansa demais. Quero voltar a olhar as coisas de forma mais leve e simplesmente rir de tudo. Rápido.
Ah, não acho chato quem gosta de discutir sobre filosofia, sociologia, política, entre outros.
ResponderExcluirPelo contrário, acho que uma pessoa que 'sabe' falar sobre isso se torna muito interessante. ;)