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17.3.13

Mais livros, por favor


Sou apaixonada por livros. Não é só que gosto de ler, é também um fetiche, talvez um vício. Acho livro uma coisa linda, sedutora. Não importa muito o estilo, a história, o autor, o livro é como um objeto imantado que me atrai. Não consigo ver um e não passar a mão na capa. Em consequência, tenho muitos livros em casa. Eu acho que são pouquíssimos, minha mãe tem o dobro na estante do seu quarto. Mas o povo que vem aqui em casa diz que é muito. 
Lembro do primeiro livro que ganhei na vida. Foram dois de uma vez na verdade. Foi na segunda série, na comemoração que escola fazia para o dia do livro (ou era da leitura...) e premiava um aluno de cada série como o "leitor do ano". Ganhei sem nem entender porque (os professores que escolhiam), só sei que amei ganhar e segurar na mão os dois livros. Um era "Memórias de Emília" do Monteiro Lobato que ficou ofuscado pelo segundo, "As sete cidades do arco-íris" de Teresa Noronha. Eu fiquei curiosa pela capa do livro e não desgrudei dele até terminar. Depois que terminei também não desgrudei e só fui ler o outro livro anos depois. Engraçado que tenho o Memórias até hoje, mas não faço a menor ideia de onde foi parar meu exemplar das Sete Cidades. Como eu queria tê-lo na minha estante!
O próximo livro que marcou o crescimento desta paixão foi um clássico que tinha a palavra "crime" no título e não, não é "Crime e Castigo" e nem "O Crime do Padre Amaro". É uma história estranha. A professora de português nos levou para uma aula na sala de leitura e disse "podem escolher o livro que quiserem". Eu fui atraída por uma prateleira com uma coleção em capa dura, azul, escritos em prata. Tinha ali todos os clássicos da literatura mundial que você pode imaginar. Peguei este que era "crime alguma coisa" e sentei num cantinho pra ler. Lembro da professora chegar e me perguntar "Vai ler este mesmo?" e eu, que já estava lendo e super empolgada com a história logo na primeira página respondi "sim, é legal!". Nunca mais voltamos à sala de leitura e eu não consegui terminar o livro, nem me lembrar o nome ou o autor. Depois de muito procurar cheguei a conclusão que era "Crime e Castigo" e minha memória estava me pregando uma peça, então fui lê-lo e no segundo parágrafo tive certeza: não era. Ainda procuro este livro como louca, parece que foi um sonho e ele nunca existiu. Em todo caso, vai que vocês conheçam e me ajudem: o livro começa descrevendo a cena de um crime, a imagem que guardo é uma estrada de terra e a faca ensanguentada na mão do cara. A linguagem é bem rebuscada, culta. E é só isso que eu lembro. 
Então, já no magistério, me deparei com "A Dama das Camélias" (Alexandre Dumas Filho) e descobri que amava literatura. Ninguém que eu conhecia, da minha idade, gostava de literatura. Era preciso falar disso baixinho e reclamar dos livros obrigatórios de vestibular para não ser execrada, mas eu amava literatura e minha única reclamação é que queria ler vários sem ter que me preocupar com o vestibular. 
Graças a esta paixão, me tornei uma leitora compulsiva. Antes eu lia um livro por vez e tentava acelerar cada vez mais o ritmo para ler mais e mais livros. Existem muitos livros no mundo e, no fundo, eu queria era conseguir ler todos antes de morrer. Como o tempo é curto, me inspirei em Picasso que tinha uma tela em cada cômodo da casa e ia pintando todas ao mesmo tempo conforme passava por elas, e espalhei livros pela casa. Nesta fase estou lendo quatro livros: "O Cemitério de Praga" (Umberto Eco) no quarto, "As Aventuras do Sr. Pickwick" (Charles Dickens) no banheiro, "Mentes Perigosas: o psicopata mora ao lado" (Ana Beatriz Barbosa Silva) na sala e "Contos Completos" (Virgínia Wolf) no escritório. 
Com este último, aliás, desenvolvi uma relação de amor e ódio. Virgínia é extremamente densa e reflexiva, seus contos nunca passam em branco, sem te forçar a pensar em algo sobre a vida, a morte, a felicidade, o sentido das coisas. Então eu passo fases grudada neste livro, devorando-o, e outras em que não consigo nem olhar pra ele, cansada de pensar.
Sou uma amante a moda antiga e não substituirei os livros por e-books e similares. Gosto de sentir a textura da capa, o cheiro do papel, de ouvir o barulho da folha virando. Gosto de grifar as partes que me chamam atenção, de anotar o significado de palavras novas ao lado, de voltar em outros momentos para ler o que grifei e lembrar de mim naquele momento. 
Por tudo isso, não consigo entender alguém que diz "não gosto de ler". Eu entendo não gostar de filmes, de TV, de internet, de novela, de revistas, de jornal, de arte, de estudar. Mas não entendo alguém não gostar de ler. É decepcionante. Não gostar de ler é não gostar de imaginar, de pensar, de refletir, de sonhar. E eu não entendo como alguém pode não gostar destas coisas que nos fazem humanos. 

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