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2.7.11

Sobre pratos, pincéis e letras


Eu tenho necessidade de criar. Demorei um pouco pra perceber, confundia com inteligência e talento, porque não sabia exatamente o que eram cada uma dessas coisas. Aos poucos percebi que tenho necessidade de criar. Não criar me deprime, fico me sentido inútil, pequena, acaba com minha auto-estima. Mas quando crio, olho para a criatura e sorrio sozinha.
É assim com o blog. Cada vez que escrevo um post, releio-o umas milhares de vezes. Uma ao fim, para ver se era isso mesmo. Outras duas ou três quando decido publicar. Mais uma vez para cada comentário e, se não há nenhum comentário, mais umas vezes para ter certeza que gosto dele mesmo assim.
Só há um problema com minha criatividade. Ela não se divide. Há várias coisas que gosto de criar e só consigo direcionar para uma delas por vez. Se escrevo, não cozinho, não desenho, não invento nada novo para casa. Se resolvo dar um jeito na decoração da casa, não consigo escrever, nem cozinhar. Desenho porque meu desenho é justamente de objetos, projetos e idéias malucas em interiores. Mas se me aventuro na cozinha, o que adoro fazer, só consigo fazer isso e saio de lá esgotada. Apenas o prazer de comer é possível depois e não há como escrever ou desenhar ou mais nada.
Inveja do Picasso, que fazia vários quadros ao mesmo tempo, espalhados pela casa. Ia na cozinha e comia pintando o que lá estava, voltava para o ateliê e pintava um dos que estavam lá. Dizem que até no banheiro ele tinha um cavalete com uma tela esperando suas pinceladas. Não sou tão gênio, nem tão louca, assim.
Percebi que estas coisas eram minha expressão criativa gradativamente. Primeiro veio o cozinhar. Eu cheguei naquela crise horrorosa de "não sei o que gosto, não sei mais o que realmente gosto". Não, eu não estava na adolescência. Era a boa e velha adolescência dos 30. Isso estava me atormentando há algumas sessões de terapia, quando, no meio de uma conversa eu me ouvi dizendo "eu gosto de cozinhar". Parei a história no meio e sorri. Eu gosto de cozinhar. E tudo virou um deleite. Uma receita por dia, louca e alegremente. Cozinhar era a única coisa que tinha sentido, a única que eu sabia que realmente gostava. Lógico que pensei em fazer gastronomia. Foi pensando nisso que fiz um jantar para amigos em casa e mais do que cozinhar eu arrumei a casa, decorei tudo, da mesa ao banheiro. E recebi tantos elogios pelo prato quanto pela decoração. Foi assim que eu percebi que gostava de decorar e que decorar poderia ser um trabalho, mas que cozinhar era um prazer. Como não gosto de trabalho, não permiti que ele estragasse o meu prazer.
Escrever nunca me abandonou. Durante todo o tempo de reencontro, mesmo sem perceber, nunca deixei de escrever. Podia ser uma poesia tosca e rasgada depois, ou um texto super político, ou ainda no meu diário. Não importa o que, desde quando estava na terceira série e fiz minha primeira poesia sentada no chão, esperando minha mãe costurar alguma coisa pra mim, o que me fazia interromper meu momento criativo para as provas intermináveis, desde aquela tarde em que escrevi minha primeira estrofe, nunca mais parei. Só quando preciso cozinhar, ou desenhar, ou algo assim. E pelos últimos posts vocês podem imaginar que não ando nem trabalhando e nem comendo direito...

5 comentários:

  1. Que delícia de post! EU me identifiquei em vários pontos... O duro é que eu não ando nem cozinhando, nem escrevendo,nem decorando... rs

    Aiaiaia Acho que o meu problema é que ando "pensando" demais... rs

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  2. Hmmm Pri brancos criativos são reais... assustadoramente reais rsrs Tanto, que meu blog ficou parado de setembro/2010 até junho... e tb não estava fazendo outra coisa. Ainda vou escrever sobre esse super branco neve! bjos querida, saudades enorme!

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  3. Kelly Camilo9:02 PM

    Opa, cheguei cheguei.. =)

    Lerei os anteriores com prazer!

    =D

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  4. Pri Lugaresi9:13 PM

    É bonito isso de ver alguém se encontrar! Seja nas pequenas coisas, na arte, no trabalho... Parabéns! Pelo texto e por tudo.
    Beijo grande

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  5. Kelly: você é muito bem vinda querida!

    ownnnn Pri, obrigada! ;)

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