Um das poesias que mais amo e uma das poucas que eu sei de cor, já que minha memória é uma mentira, é “Ausência” do Drummond:
Por muito tempo achei que a ausência é falta
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
Ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Triste. Mas de uma tristeza que acompanha a vida e não faz mal de verdade. Aquela tristeza que também faz parte de quem se é, tanto quanto todas as outras características que nos formam. Dizer que ninguém tem uma tristeza lá no fundo, que de vez em quando vem à tona e balança sua vida, suas certezas e mina suas forças é mentira. Ou psicopatia.
A minha é de uma força assustadora as vezes. Ela vai chegando e dominando meu pensamento, meus dias, meus olhos. Até que chega o momento em que somem todos os pensamentos e todos os outros sentimentos. Fica só um vazio triste, de quem olha pra dentro e já não se encontra ali.
Tudo perde o sentido. Torno-me por uns dias um robô. Automaticamente vivo meus dias como todos os outros, mas ao invés daquela sensação de bem estar e satisfação constante que tenho comigo mesma e que faz até o dia mais monótono do século ser bom, passo para uma constante tristeza em que o melhor momento do dia é chegar em casa e desabar, para deixar a tristeza sair.
Estou numa dessas fases. Sou transparente e é bem possível que muitos já tenham percebido. Mas em geral não divido minha tristeza com ninguém. Ninguém pode fazer nada, pelo contrário, às vezes nas melhores intenções dizem coisas que me desequilibram mais ainda. Desta vez, lembrei-me da poesia porque entendi que é exatamente isso que sinto: a ausência de mim. A tristeza é a saudade que sinto de mim mesma.