Virei tia aos 15 anos. Era como um sonho de menina. Eu olhava aquela coisinha branca de olhos azuis brilhando pra mim e só pensava em fazê-la rir até soluçar. Minha segunda sobrinha nasceu eu já estava na faculdade. Achei que nem me emocionaria tanto, pois já conhecia a emoção e a paixão que é ter sobrinhas. Mas quando entrei no quarto e a vi chorando no colo da minha irmã foi instântaneo: meus olhos se encheram de lágrimas, meu coração disparou e eu só sentia amor.
Hoje elas estão com 18 e 10 anos. Uma loirinha revoltada (já raspou e pintou de vermelho o cabelo, cheia de piercings e alargador) e uma mestiça delicada e fashion. Lindas e super carinhosas. Desde que nasceram eu me esforcei pra ser uma super tia. Dizia a mim mesma que não seria pra elas o que 90% das minhas tias e tios foi para mim.
Propositalmente criei coisas que fossem só nossas. Com a Tata (Tainá, a mais velha), virou lei irmos juntas nas estréias do Harry Potter, até ela me trocar pelos amigos, o que considero extremamente saudável. Passamos a rever os filmes juntas em dvd, com pipoca e brigadeiro de colher. Lemos todos os livros e ainda os discutimos, comparando com os filmes.
Com a Bibi (Gabriela, a minha japonesinha) criamos momentos do dia a dia, adoramos arrumar uma super mesa de lanche da tarde para surpreender minha irmã quando vem buscá-la na minha casa. Ela sempre faz um desenho para deixar em algum lugar da casa e poder me lembrar dela todos os dias. Depois que decidiu ser estilista, passou a fazer vestidos para mim.
Há também as falas que se tornaram só nossas. Com a primeira, desde que ela aprendeu a falar, brigamos por quem é que ama mais a outra. Até hoje, num simples e-mail, o final é sempre "eu que te amo". A segunda é muito engraçada e sempre detona minhas frases, como quando nos falamos ao telefone, me anuncio "É a tia mais legal do mundo!" e ela ri "Isso é você quem está falando..." ou me despeço "Eu já disse que te amo?" e ela ri denovo "Todo dia!".
Sempre que vão fazer compras chamam a Tia Mica. Desenvolvi uma fama de conseguir achar as coisas que elas gostam, do jeito que sonham e num preço pagável. Essa fama contagiou a família, mãe e irmãs também me chamam para ajudar nas compras. Conclusão: vivo no shopping!
A Tata é de gêmeos, meu ascendente. A Gabi é de virgem, meu signo. Com as duas tenho muitas afinidades e não consigo passar mais de dois dias sem conversar. Telefone, e-mail, msn, facebook, twitter, o que for! Temos que nos falar e temos que nos ver. Dificilmente passa uma semana sem que não nos encontremos. E quando acontece, dá uma saudade doída.
Eu sabia, aos 15 anos, que ser tia era uma coisa legal. Eu só não imaginava que era perfeito! Eu sabia que ia curtir. Só não imaginava que ia me encontrar e me reconhecer tanto nelas.
Minhas sobrinhas são minha inspiração. Já vejo nelas que a suas gerações são de mulheres e pessoas bem diferentes que a minha. Isso me conforta. Uma vez disse para elas "o meu sonho é que vocês me superem, que me provem que eu estou errada, que achem soluções, idéias e princípios melhores" Não tenho medo de olhar o mundo e perceber que não o domino mais como só os adolescentes são capazes. Seria triste demais se tudo continuasse igual. Essa renovação traz esperança de que realmente haverá um mundo melhor, já que eu não o mudei quando tentei.