Acompanhei nesta semana as reportagens que saíram no Terra e na Folha sobre o caso da garota que teve fotos de sexo entre “ela” e dois caras, publicadas na sua página no orkut e em blogs.
Fiquei indignada principalmente com a reação dos universitários da Fundação Eurípedes Soares da Rocha (UNIVEM – Marília/SP) que tumultuaram a aula que a garota assistia, para a ofenderem.
Já estava pensando neste texto quando conversei com um amigo: “o que mais me incomodou foi a reação da galera, às vezes da vergonha de ser homem” e, além de indignada, eu fiquei também envergonhada.
F.F., a garota das fotos, está correndo atrás de provar sua “inocência” – declarou que são uma montagem por não reconhecer seu corpo nelas, nem o sapato que aparece no pé do “corpo na foto”, etc... mas não é isso que me indigna ou envergonha.
E se fosse ela? E se ela resolvesse publicar as suas fotos? Exatamente em que ponto as pessoas passam a ter o direito de atirarem as pedras? Isso sim me deixa indignada! A construção da sexualidade é completamente individual. Não existe uma norma, uma regra, um dogma que deva moldar a sexualidade de ninguém. Se você acredita ou escolhe determinados padrões como certos e aceitáveis, isso vale para você e para o jeito como goza, mas não vale para toda a humanidade. Cada pessoa tem o direito de descobrir como satisfazer seus desejos e como dispor de seu corpo – SEU CORPO.
Então lembrei de quantas vezes já ouvi amigas e outras mulheres julgando garotas que não se enquadram nos padrões considerados moralmente corretos para a conduta de “uma moça”, por mais que nenhuma delas usasse este termo... Imaginei na hora como deve ser grande o número de meninas que participou da reaçãozinha e se sentiu no direito de humilhar F.F. Imaginei ainda, a reação daquelas que não se insuflaram contra a garota, mas deram suas opiniões nas rodinhas do intervalo ou nas mesas de bar da cidade “Eu não sei, mas que ela já era falada, era”; “Ah mas essa mina aí é meio galinhazinha mesmo”; e se ela for uma garota que curte as baladas da cidade “Ih! essa mina é mó loca!”; mas se ela for sossegada “É, essas com jeito de santinha são as piores!”. E tudo isso me envergonha – estou envergonhada de ser mulher.
Qualquer mulher poderia ter sido sacaneada como F.F. Qualquer uma pode ter desejos de trepar com dois caras e ainda publicar porque curte. Em diversas situações somos julgadas – se você fica com muitos caras, se dá na primeira noite, se fuma, se bebe, se curte balada até o sol nascer, se tem mais amigos do que amigas, se gosta de rock, se joga futebol, se sonha em ser engenheira naval, se quer virar madame, se pinta o cabelo, se faz tatoo, se usa fio dental na praia, se gosta decote... Somos sempre julgadas, nossa sexualidade está sempre sendo controlada, vigiada. E me envergonha ver outras mulheres na linha de frente do júri. Ver aquela que adora chupar o pau do namorado julgando a que chupa só quando ele merece, competindo pra ver quem é mais mulher – mais correta, mais justa, mais menina pra casar.
O que nenhuma delas assume, ou mesmo sabe é que o que está por trás de tudo isso é muito mais cruel. Agir e pensar assim é o mesmo que dizer “Bem feito F.F., você é mais uma que não passou no vestibular pra mulher, mais uma fora do meu caminho, eu vou ser aceita pela sociedade, você é só mais uma puta.”
Não conheço F.F, nem sua moral, nem seus desejos, nem sua vida, nada. Mas sei que ela é uma garota como eu. Sei que ela deve estar destruída com todo esse rolo. Sei que ninguém tem o direito de julgá-la, independentemente da verdade por trás desta merda toda. E isso é o suficiente para eu defendê-la. Isso é o suficiente para eu detestar toda a galera que fez de sua vida um inferno. Isso é o suficiente para eu ter vergonha de ser mulher, ter pena dessas tantas outras garotas que jogam com as mesmas cartas que o machismo e, ter força, mais força, pra lutar pelo fim desta dor e desta solidão que é querer mudar o mundo.
Fiquei indignada principalmente com a reação dos universitários da Fundação Eurípedes Soares da Rocha (UNIVEM – Marília/SP) que tumultuaram a aula que a garota assistia, para a ofenderem.
Já estava pensando neste texto quando conversei com um amigo: “o que mais me incomodou foi a reação da galera, às vezes da vergonha de ser homem” e, além de indignada, eu fiquei também envergonhada.
F.F., a garota das fotos, está correndo atrás de provar sua “inocência” – declarou que são uma montagem por não reconhecer seu corpo nelas, nem o sapato que aparece no pé do “corpo na foto”, etc... mas não é isso que me indigna ou envergonha.
E se fosse ela? E se ela resolvesse publicar as suas fotos? Exatamente em que ponto as pessoas passam a ter o direito de atirarem as pedras? Isso sim me deixa indignada! A construção da sexualidade é completamente individual. Não existe uma norma, uma regra, um dogma que deva moldar a sexualidade de ninguém. Se você acredita ou escolhe determinados padrões como certos e aceitáveis, isso vale para você e para o jeito como goza, mas não vale para toda a humanidade. Cada pessoa tem o direito de descobrir como satisfazer seus desejos e como dispor de seu corpo – SEU CORPO.
Então lembrei de quantas vezes já ouvi amigas e outras mulheres julgando garotas que não se enquadram nos padrões considerados moralmente corretos para a conduta de “uma moça”, por mais que nenhuma delas usasse este termo... Imaginei na hora como deve ser grande o número de meninas que participou da reaçãozinha e se sentiu no direito de humilhar F.F. Imaginei ainda, a reação daquelas que não se insuflaram contra a garota, mas deram suas opiniões nas rodinhas do intervalo ou nas mesas de bar da cidade “Eu não sei, mas que ela já era falada, era”; “Ah mas essa mina aí é meio galinhazinha mesmo”; e se ela for uma garota que curte as baladas da cidade “Ih! essa mina é mó loca!”; mas se ela for sossegada “É, essas com jeito de santinha são as piores!”. E tudo isso me envergonha – estou envergonhada de ser mulher.
Qualquer mulher poderia ter sido sacaneada como F.F. Qualquer uma pode ter desejos de trepar com dois caras e ainda publicar porque curte. Em diversas situações somos julgadas – se você fica com muitos caras, se dá na primeira noite, se fuma, se bebe, se curte balada até o sol nascer, se tem mais amigos do que amigas, se gosta de rock, se joga futebol, se sonha em ser engenheira naval, se quer virar madame, se pinta o cabelo, se faz tatoo, se usa fio dental na praia, se gosta decote... Somos sempre julgadas, nossa sexualidade está sempre sendo controlada, vigiada. E me envergonha ver outras mulheres na linha de frente do júri. Ver aquela que adora chupar o pau do namorado julgando a que chupa só quando ele merece, competindo pra ver quem é mais mulher – mais correta, mais justa, mais menina pra casar.
O que nenhuma delas assume, ou mesmo sabe é que o que está por trás de tudo isso é muito mais cruel. Agir e pensar assim é o mesmo que dizer “Bem feito F.F., você é mais uma que não passou no vestibular pra mulher, mais uma fora do meu caminho, eu vou ser aceita pela sociedade, você é só mais uma puta.”
Não conheço F.F, nem sua moral, nem seus desejos, nem sua vida, nada. Mas sei que ela é uma garota como eu. Sei que ela deve estar destruída com todo esse rolo. Sei que ninguém tem o direito de julgá-la, independentemente da verdade por trás desta merda toda. E isso é o suficiente para eu defendê-la. Isso é o suficiente para eu detestar toda a galera que fez de sua vida um inferno. Isso é o suficiente para eu ter vergonha de ser mulher, ter pena dessas tantas outras garotas que jogam com as mesmas cartas que o machismo e, ter força, mais força, pra lutar pelo fim desta dor e desta solidão que é querer mudar o mundo.